Reparei há dias que andei a adiar a reflexão sobre este tema...
Na verdade depois do Xavier nascer, nos dias que se seguiram sempre que alguém perguntava pelo parto e eu dizia: foi cesariana- já tinha ouvido várias vezes a expressão ai coitadinha. Umas vezes esforcei-me para responder, outras nem por isso.
A verdade é que não é para mim um tema fácil, preparei-me para um parto normal, exercitei o meu perineo, imaginei o momento e todas as coisas que o envolviam, tinha um plano e esperava parir sem recorrer a uma cirurgia. Tínhamos um plano B, porque sabíamos ddesde cedo que a cesariana podia acontecer, mas nunca pensamos muito nisso.
O certo é que o meu útero por razões anteriores à gravidez, não tinha condições para o parto normal. E com alguma tristeza e insegurança o medo que um dia tive do parto normal, transferiu-se para o momento da cesariana.
Recordo o beijo na testa da minha médica, que me dizia antes de entrar no bloco: miúda vai correr tudo bem. E o importante é que correu mesmo.
Perguntam-me: preferia um parto normal, respondo eu que sim.
Perguntam-me: preferia um parto de 12h, em que o meu bebé saísse a forceps ou ventosas, ou tivesse de ir a correr para o bloco para uma cesariana, em que as recordações fossem de muito sofrimento para fazer chegar um criança ao mundo, respondo claramente que não.
Perguntam-me: sinto-me ou senti-me durante o processo uma coitadinha, respondo, claramente que não.
A cesariana foi de facto muito tranquila.
O anestesista ouvia metal, uma música que nem conhecia, de tão metal que era, diziam no bloco que já tinha ouvido Bach horas antes. Conversámos durante o processo em que me explicava sempre o que estava a fazer.
O André esteve ausente apenas o minutos em que fui anestesiada com epidural, chegando logo depois. Estivemos sempre juntos.
E ao som da música íamos ouvindo a médica e o anestesista contarem o que se passava.
Até que depois de poucos minutos o sentir a sair, ali ficou diante de mim, o meu filho, logo mo puseram para o beijar e tocar, logo o decorei e senti.
Logo o vimos e ali ficou uns instantes.
Pudemos tirar fotos, pudemos olhar juntos para o nosso filho e foi sem dúvida especial, sim sem as dores, ou a força das contrações que o trariam para fora.
Uma auxiliar de serviço no bloco, tirou fotos dos três, diz que não resistiu à forma como o André namorava comigo e com o filho naqueles instantes. Viva a Internet que num instante passou as fotos para o nosso telemóvel.
Até que enquanto me suturavam o pai saiu com ele, por uns breves instante, fiquei a ouvir o seu choro, eram mais gritos, que até hoje permanece gravado na minha memória, chegou já limpo, ficou comigo, e por ali fomos juntos, agarrados, a ganhar o cheiro um do outro, para o recobro.
Nem uma hora passava de ter nascido, já tinha encontrado a minha mama. Ali estávamos os dois, juntos, esquecidos se assim ficámos pela cesariana ou pelo parto normal.
Não sei se por sorte ou pelo facto de ter feito exercício até três dias antes de parir, a minha pele e músculos estavam bem, e não senti muitas dores ou desconforto no pós operatório. Levante nas horas seguintes, controle para não fazer muito esforço e no dia seguinte, quando a enfermeira chegou para me levar para o banho, já estava eu a tomar banho sozinha.
Fui registar o Xavier com o André em modo de passeio. Sempre tranquila, com uma pontada ou outra, mas nada parecido com o que tinha ouvido sobre cesarianas e as suas recuperações.
E três dias depois não precisava já de medicação para as dores, tinha só que ter juízo acrescido porque sem dores a tendência para o esforço é maior, e não convinha fazer asneira com a cicatriz.
Recuperei bem e rápido. Cicatriz ok, perfeita e fina. Sem dores, com energia.
Seis semanas depois alta completa.
Talvez o exercício tenha ajudado neste processo, talvez seja resistente às dores muito fortes (até aqui achava que não), talvez tenha tido sorte, mas de facto isto não custou muito, nem esteve perto de tudo o que eu esperava que podia vir a ser.
Ontem, 8 semanas depois do parto, voltei ao ginásio.
Curiosamamente voltei a pensar neste assunto. Várias pessoas acompanharam a minha gravidez por lá e souberam que o Xavier já tinha nascido.
Duas delas, por acaso mulheres, perguntaram como tinha sido o parto, às duas disse que foi cesariana, as duas de cara encolhida disseram: Ai coitadinha! A nenhuma me dei ao trabalho de responder com o facto em nada ser coitada.
O Xavier nasceu bem, ele e eu estamos bem, a recuperação foi rápida e fácil. Amamento sem problemas, como me posso sentir coitada?
Seria menos coitada se estivesse um pipi esfrangalhado, exausta, morta de dores de um parto normal provavelmente com o perineo cozido, com dificuldades em andar e a por gelo de 20 em 20 m? Talvez ainda a fazer ginástica para recuperar a bexiga?
(Hum... não me parece).
Não seremos nós mulheres igualmente coitadas em qualquer uma das recuperações de qualquer tipo de partos? Certo que de maneira diferente e por diferentes razões.
Ou melhor, não seremos coitadinhas em nenhuma das situações?
Seria talvez mais mulher, por ter um filho de parto normal? Pensem os outros o que pensarem, a minha resposta certa é Não.
A sociedade, as pessoas, as mulheres estão cheias de preconceitos, teorias e formas mais corretas de fazer algumas coisas. Cheia de opiniões e opinantes, cheia de maldade muitas vezes.
Na gravidez, no parto, no pós-parto, estamos frágeis e muitas vezes sucumbimos a estas criticas e ás pessoas que acham que sabem o que está certo. No entanto não podemos esquecer que o certo está dentro de nós e cada caminho é um caminho, cada parto é um parto e cada filho é uma pessoa diferente de qualquer outra.
Sei que preferia um parto normal, sei que não o tive, sei que não sou coitadinha.
E creio que pouco mais devo refletir sobre este tema. O mais importante é que nasceu bem o Xavier e saímos juntos do hospital sem pensarmos muito no parto, mas no bom que é o nascer de um filho!