ai coitadinha!!!
Durante a gravidez ouvimos tantas coisas, teorias, ideias, opiniões.
Aprendemos a filtrar, tentamos, nem que sempre seja possível. Como em qualquer contexto, cada um gere, aceita ou arruma estas coisas como consegue ou quer.
Uma das muitas expressões que tenho ouvido, que normalmente se juntam aos olhares e comentários sobre o tamanho da minha barriga é: ai Coitadinha!!
- Coitadinha porque vai fazer tanto calor.
- Coitadinha porque já está muito calor.
- Coitadinha porque já não deve ter posição.
- Coitadinha porque dormir é tão mau.
- Coitadinha porque se ele é grande o parto vai ser tão difícil.
...
(Coitadinha, basicamente porque sim...)
Confesso que odeio a expressão, grávida ou não, o coitadinha é depreciativo, coloca as pessoas num estado que nem consigo descrever sequer.
Confesso ainda que tenho muitas vezes vontade de responder e fazer uma versão bem mais interessante do coitadinha, em jeito de paródia, porque em qualquer contexto, com qualquer das limitações lógicas da gravidez, nunca me sinto coitadinha.
Mas apetece dizer, ás pessoas que não sabem o que dizer, e que do nada soltam uma coitadinha só porque acham fofinho, que se quiserem que seja coitadinha, em vez de pensarem na minha barriga, no calor, no meu parto, ou no tempo em que com felicidade, tranquilidade e amor carrego o meu filho, pensarem em:
- coitadinha, cada vez que quer comer sushi tem de pensar com antecedência, escolher bem o local para garantir a qualidade do sítio e pagar o triplo do habitual,
- coitadinha, com este calor sonha com imperiais frescas, que pode beber de penálti, numa esplanada fantástica, num fim de tarde qualquer (escusam de pensar em cerveja sem álcool, não é a mesma coisa nem perto nem longe, é ingerir calorias em vão)
- coitadinha, que olha para o vinho branco e o imagina fresco, num copo alto, a acompanhar um peixe e uma salada num restaurante de praia qualquer (nem vou voltar a falar do vinho, que me apetece beber até sentir aquela leveza próxima do embriagado, coisa que não acontece desde novembro, numa noite entre amigos e por acaso a acompanhar um bom sushi que comi sem culpas, falemos só da salada, que é um filme comer salada fora de casa).
- coitadinha levou o inverno todo se comer requeijão, (sabem lá o que gosto de requeijão) mousse de chocolate, entre outras coisas.
- coitadinha, que não pode fazer burpees, dar saltos, andar de bicicleta ou ir a aulas de ginásio com impacto, mas também quem é que gosta destas coisas, ainda para mais grávida, bahhh.
- coitadinha porque já custa chegar à pia do lava loiça, esta de certo não imaginam, ou se imaginam pensam, há sempre a máquina de lavar.
- coitadinha que a roupa de grávida é horrível.
- coitadinha que deve ter gases, fome horrorosa, o cabelo parece um ninho, as hormonas todas aos saltos, mas mesmo assim está tão bonita, com aquele brilho de grávida...
- coitadinha que não pode correr na praia ou mandar-se de chapa para a água, embora quando entre nela faça chapa na mesma.
- coitadinha que cancelou as férias de papo para o ar, ou simplesmente não visita os pais ao fim de semana porque é perigosa a viagem.
- coitadinha porque ninguém entende o que lhe passa na cabeça quando alguém lhe diz que é uma coitadinha...
- coitadinha porque vai trazer uma vida no mundo, e gorda, magra, com vontades, com saudades, está serena, rodeada de carinho, segue feliz .
e podia continuar...
Gravidez não é doença, mas conheço quem passa muito mal, e tem gravidezes complicadas do ponto de vista da saúde física ou psicológica, mas nunca olho para elas como coitadas. Vivem uma fase da vida, que devia ser boa, limitadas em grande parte e acabam por estoicamente todos os dias lutarem para levarem as suas gravidezes o mais longe possível. Acredito que precisem de ajuda, compreensão e companhia muitas vezes, mais que ouvir as pessoas dizer, ou tipico "ai coitada", ou outra expressão triste qualquer.
Quanto ao resto costumo dizer, o calor dos ananases acontece todos os verões e temos de aguentar, sabemos ainda que há coisas que não se podem fazer, mas a sociedade que muitas vezes espera que as mulheres grávidas sejam super mulheres, que não precisam de prioridades em filas, ajudas e podem continuar a ser e fazer tudo, está repleta das mesmas pessoas, que quando vêm as mulheres a fazer tudo o que podem, ajustado claro à sua condição , que verbalizam o coitadinha de pena como o que têm para lhe dizer...
Seria coitada talvez, se não tivesse o que comer, o que vestir, se não tivesse saúde, uma casa, família e amor.
Sinto saudades de muitas coisas, não o nego, aceito, vivo outra fase e com a prioridades ordenadas de uma outra forma, sigo certa que fiz o que devia ter feito para ver o meu filho chegar bem, mas tenho as minhas vontades, coisas de que sinto falta, não esqueço que em mim está ele e estou eu.
Pessoas fofinhas, às vezes o melhor é não dizer nada, se não sabem o que dizer, se sabem e acham e vem lá um coitadinha, podem sempre guardar para dentro, uma grávida muitas vezes não quer mesmo saber o que pensam, se o que pensam passa por ser coitada.
Coitados dos que não param muitas vezes para pensar antes de dizerem coisas assim...