20
Nov06
Só´, num comboio regional
Carolina
A solidão não se mede pela ausencia de corpos presentes, mas pela nossa presença entre os corpos...melhor, a solidão não se mede, vai se levando no momento em que se sente...
À distância de inumeras estações e apiadeiros estão as nossas lembranças, o nosso pensamento, a nossa memória, estão os medos e claro a solidão...
Entre o apito do comboio que parte e que para, está a minha solidão e tudo o que ela me dá.
Está o abraço do meu pai, a forma estranha e tão própria de ter o mimo da minha mãe, o colo da minha avó, o abraço forte dos meus irmãos, a doucura da minha tia...estão as palavras dos amigos, estão os momentos que não esqueço, as pessoas que quero sempre lembrar...entre a partida e a chegada, estou eu, mais o tudo que fui e sou, mais o nada que num momento só posso passar a ser, está o simples ar que respiro, o meu primeiro beijo, o meu maior triunfo, o meu orgulho, a minha esperança, a minha vontade de ser mais, e depois está tudo o resto...
Sozinha, naquele comboio regional, na viagem de regresso ao lugar onde ainda sou pouco, mas continuo a lutar para me fazer mais, a minha solidão da-me tudo o que nunca vou perder, traz até mim o que nunca sendo meu, também não poderá ser de mais ninguém, dá-me o que não perco se me for, mas tudo aquilo que me perde se me vir ir...
Sozinha, naquele comboio regional, de pernas enrudilhadas no banco, de olhar posto numa janela meia opaca, tenho tudo o que faz os meus dias, o que me faz feliz, alegre, triste, nostalgica, tudo o que me faz eu...tenho tudo ali, à distância de um pensamento, entre as cortinas da memória... tenho tudo presente, tenho tudo a ir e a voltar, ao som daquele estouro, daqueles vidros a partir, daqueles que foram os mais rapidos intantes da minha vida, e que me mostrarm como tudo vem assim a nós, da mesma forma que tão rapido se pode ir...tenho ainda tudo a passar por lá, ao som daquele embate que foi, talvez, o maior combate do meu pequeno pensamento...