{ posso sempre voltar a fumar outro cigarro}
fumo,
translúcido mas enevoado.
invisível, vagueando na ausência,
cheira a pó.
as minhas mãos pequenas guardam o cheiro do fumo...
a sala mudou, a música não parou de tocar, o relógio sossegou de novo.
os ponteiros parados do meu peito giram agora devagar, a janela aberta faz corrente de ar, as minhas costas arrefecem, eu espirro.
já fumei...
nunca soube fumar...
engasgo-me.
tropeço nos meus dedos enroscados no cigarro, deixo o cheiro pintar o ambiente e ficar por ali.
ele vai ficando pequeno e as minhas mãos maiores.
largo a camisola no chão,
deito a cabeça numa montanha de almofadas,
nua, entre o fumo invisível, do cigarro que se acaba, penso:
posso sempre voltar a fumar outro cigarro...