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Passa Por Lá

Passa Por Lá

22
Mai07

Há um ano...

Carolina
Há um ano atrás era uma menina e tu um menino.. era tua ouvinte, sei lá eu mais o que era, talvez uma amiga estranha, uma voz tremida, uma interrogação aberta...
Há um ano atrás eras o menino fechado num mundo carregado de tudo, há uma ano atrás contavas-me a medo que vivias num poço, numa espiral de ansiedades que te negavam muitas das coisas que querias de verdade, como os simples abraços, os toques do carinho e os gestos do amor...
Há um ano atrás contavas-me que a tua musica favorita se chamava ghetto, que não vivias sem ela, embora vivesses sem tantas outras coisas que buscavas com muita ansia de encontrar.
Há um ano, fazias sentido para mim, há um ano esse ghetto de que falavas estava aí remanescente no teu mundo de tudo, e sentias que muitos queriam viver lá, não contigo mas com o que tu tinhas nele.
Há um ano eras um menino que eu conhecia, mas que de há um ano para cá, cresceu...
Olho para ti hoje, ou melhor não olho, e não me questiono mais porque não o faço, desisti de o fazer, talvez porque não queiras, ou talvez porque já não tremas ao sentir a esfera do meu olhar, talvez porque não queiras sequer imaginar esse tremor, ou simplesmente porque a vontade passou...mas quando te consigo alcançar, só te vejo maior no teu ghetto e não te vejo fora de lá, vejo maiores e mais plásticas as coisas e as pessoas que lutam com unhas e dentes para entrar nele, e vejo-te sim mais feliz nesse ninho teu, onde continua a faltar tudo o que procuravas, mas onde encontraste tudo e mais alguma coisa que nos vapores do tempo compensa a falta do que ainda não está lá dentro.
Desisti de te levar a ver um pouco do nada que existe fora desse ghetto, desisti porque não sou nada, nem ninguém para o fazer, desisti porque a minha vida é mais que tirar alguém que não quer sair, de um espaço que corrói e desgasta entre o brilho osfuscante que também sabe dar...
Desisti porque o ar que respiro me mostra a cada dia o que sou, e me deixa sentir o toque no ombro deste e daquele, o conforto de um beijo desinterresado da minha mãe, do meu pai, os piropos dos meus meninos pequenos e, os olhares de outros quaisquer que se querem chegar perto, para partilhar um momento, uma hora, e talvez uma eternidade que eu sei que não existe...
Gosto do risco do gostar e a minha pequenez nesta vida, sabe dar-me isso a cada segundo que passa, gosto de saber que sofro para ter e que sofro quando não consigo, e gosto de saber ultrapassar e depois olhar para trás com ternura, e aceitação; gostarei sempre do que me mostraste, do que não me soubesses mostrar e claro do nada que te dei...
Gosto de me sentir assim tal qual como no dia em que te vi menino, gosto de me sentir assim menina, pronta para arriscar de novo, para viver tudo e tudo com o medo do costume, a ansia de sempre, quero aquele tremor na minha barriga, aquele não saber onde por as mãos, o não saber o que dizer ou como olhar, quero isso de volta para mim...há um ano soube ser assim... mas esse ano passou, mas eu estou aqui, disposta a sentir de novo, o novo tremor... o menino, onde está? não sei, às vezes sinto que se perdeu, outras que numa ilusão soube crescer, não sei mesmo, se ele quiser aparece de novo... talvez nunca mais volte a ser menino...
Cá estou como sempre, porque a menina de mim não se vai, não esmurece, mas renasce, sempre diferente é certo, mas sempre na essência de ser eu, na vontade incessante que não desiste e passa sempre por lá...
Até sempre menino!!...

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