02
Abr09
confusão e sensibilidades
Carolina
Algures onde todos os cheiros se cruzam, onde o pó se confunde com a névoa da manhã, e a chuva teima em mostrar a força de uma natureza alterada por uma civilização que embora pouco civilizada, tem o dom normal de interferir com o tempo, a sensibilidade emerge em tempos e a formas dispares, tão densas como leves, tão profundas como evaporantes...
Não escolhem tempo, nem ruas, nem cores, nem o comboio em que vão seguir, pois certo, quase tão certo como que pode chover, é que qualquer um deles vai atrasar...
Cheira a carne, a peixe, a pó, cheira ao mesmo tempo a uma pobreza e podridão que não se entende de tão misturada que está na cor desmaiada das paredes quentes, e garrida dos tapetes, dos colares, das contas e de todas as histórias.
Perturba e confunde o som dos tambores, das cornetas, das correrias, das mulheres das motas, do próprio ar que parece que assume ruído próprio... forma de ser e de estar, toda a envolvência assume personalidade entra por ocidental a dentro como que consumindo, mas na verdade está progredindo enquanto se entranha... e natural se torna...
Caril e fumo, dissipam-se sobre a luz espelhada de uma praça que muda em minutos, onde do alto se veem formigas a carregar tabuas, ferros, bancas e comida, por entre ultrapassagens perigosas, de burros, carros de mão,bicicletas e motoretas... As saias e os gritos das mulheres não se definem, umas e outras não teem limites, são como um só misto de linguas entrelaçadas a falar rapidamente como se aquele mundo acabasse amanhã, enquanto num segundo deixam soltar um ou outro som parecido com palavras de uma ou outra língua ocidental...
Cheira a homem em quase todas as ruas labirinticas de uma medida que mal se sabe onde termina depois de se entrar, cheira a sorriso, e toda a mulher ocidental sabe que para ser mais bela, pode andar por ali.
Trocam-se os passos com os olhos que em simultaneo se deixam levar atras do som da corneta, do gemido da orção e da balburdia de gente que não para, e de um tempo que não se conta...
Sensibilidades distintas de pensamentos afogados e a buscar a calma de um ou outro espaço mistico pela cor mas com ambiente de calmaria, ou seja de proximidade ao que chamamos de nossa civilização. Discordo da razão e da emoção de ser ou não ser mai sou menos bom o nosso lado ou o lado de lá, mas misturo em mim a sensibilidade unica de ter sentido o medo, o panico confuso de passar em ruas "iguais" sem saber como voltar a chegar lá, com a emergência de vontades e cores que tão depressa nos fazem voar para sabores ali ou noutro instante qualquer!!
A confusão entre todos os sentidos estende-se imagens fora e cores a dentro...não se resume só a estas palavras nem ficará por aqui... hoje no sol de cá, com a maresia que entra pulmões a dentro recordo para mim com vontade de encerrar numa caixa colorida de metal trabalhado por um marroquino desdentado, pequenino e pouco limpo, o cheiro da mirra, na banca do lado mais à esquerda da praça Djemaa El-Fna, mesmo na entrada principal da Medina, ou seja na primeira de 14 portas, o cheiro a Mirra, mesmo ali, logo ao lado de uma das muitas bancas de sumo de laranja.
A sensibilidade de hoje é mirra, quente e penetrante, que faz salivar, diante de uma janela espelhada que nos mostra que há sempre um lado de lá, um estar e ser mais além, um pensar mais a frente e o movimento que como o próprio tempo não pára...Mirra que purifica numa praça de folia, alegria, gula e extravagância onde outrora se erguiam cabeças decapitadas de criminosos e maus exemplos...
Confusão e sensibilidadeb com sabor a marrakech....