Não me recordo ao certo de há quantos dias não uso saltos, mas por certo para cima de duzentos!
Somos felizes de chinelos, ténis ou descalsos, mesmo quando os meus calcanhares doem um pouco.
Não sei como será sair em cima de uns tacões algum dia destes, lá na frente, no futuro!
Conforta-me que a roupa se mantém na sua generalidade, sendo que alguma está encostada no canto no armário á espera de dias de menor barriga para ser usada outra vez!
Conforta-me ainda ter gasto muito pouco com roupa pré-mama ao longo destes dias, entre tantas coisas não engraçadas, lá se encontra uma coisa ou outra bonitinha!
Entre todo o stress, a notícia,o sangramento, a placenta e uma medicação anterior, seguimos um dia de cada vez e continuamos grávidos, e eu à espera de ser efectivamente mãe.
Já tivemos a fase das borbulhas, passou rápido, a pele lá habituou rapidamente a mais um habitante no mesmo corpo.
A azia que tardou a aparecer e que vai e volta, e não chateeia muito.
Arrotos e gases, há meses que nos perseguem, e não ninguém nos avisou que era assim, mas nós habituamo-nos e lá vamos percebendo que a digestão baixou de velocidade, e o metabolismo também.
Estrias, sete meses até aparecerem e como eram esperadas, ali ficaram a olhar para o espelho, porque de outra forma também não as vejo. Não houve creme ou oléo recomendado e caro que não tivessemos posto e elas vieram na mesma, acompanhadas de alguns kgs e pouca vontade de beber água.
Cabelo estranho, que não encaracola como antes, que nasce em pontas finas por todo o lado, é o pão nosso de todos dos dias, salvé algumas idas ao cabeleireiro para lhe dar um ar mais bonitinho.
As gengivas estão frageís e as unhas oscilam entre duras e resistentes e pedaços de papel.
Deixei de contar as idas nocturnas à casa de banho, creio que se ajudam a ajustar o relógio para o resto das noites de uma vida, que não tardam vão começar. Lá vou eu muitas vezes ás escuras e sem abrir os olhos, sorte a de já conhecer bem o caminho.
A fome reside em nós, uns dias mais intensa outros não, resta-me a felicidade de não sofrer de retenção de liquidos e ser menos uma preocupação. Nada de inchar nem nos dias de primavera que lembram os verões e calor que amadura ananáses.
Os exercicos de kegel, os dias em que esquecemos de os fazer, a importância de preservar a bexiga e os cuidados com os alimentos e as comidas fora de casa... o sushi que não tenho comido e o vinho que tanto me custou deixar de beber, mesmo que só ao fim de semana.
E a celulite, meu deus, de onde apareceu tanta pele mole, como em meses podemos ficar assim, parece que tudo o que era duro está agora banbo preparando o corpo para uma chegada, deixando as suas marcas aqui e ali, em pequenos buraquinhos onde muito poucos cremes podemos colocar. E pensar que ainda não comecei a andar como uma mãe pata...
Acrescentar o parto, seria uma hipótese,mas nunca passei por nenhum, fica a incerteza e a imaginação do que será!
Esta lista de pequenas coisas, transformações ou mudanças que ao longo dos meses foram fazendo parte dos dias, podia continuar por mais algumas linhas. Quando ouvimos falar da gravidez, muitas vezes ficamos agarrados ao brilho, á beleza natural de uma mãe que ajusta o seu corpo para receber um outro ser e esquecemos as provações que se passam fisica e psicologicamente até que a criança nasça.
Não discuto se é bom ou mau, acredito que cada gravidez é diferente, acredito que gostar ou não de estar grávida em nada vai influênciar a capacidade de um mulher ser boa mãe.
Sei que há coisas que deixamos de fazer e sentimos saudades, sei que há outras que queriamos ser capazes de fazer e o peso, a barriga não deixam, sei que há privilegios e muitas vezes os holofotes do mimo e de toda a atenção se viram para nós. Sei que há quem finga não nos ver nas filas e ache que estamos só com um crise de gases ou com alergi ao glutém.
Sei que entre tantas e tantas coisas que acontecem entre o corpo e cabeça, existem as coisas que a fisiologia não explica, existe um coração que palpita a cada pontapé, uma respiração anciosa a cada preocupação, uma amor que não tem medidas.
Sei que os sentimentos estão ali lado a lado com um corpo que tem outro lá dentro, seguindo a lógica de sermos todas diferentes e de ser uma caminhada que não se escolhendo na maior parte das vezes cada possível futura mãe faz de uma forma única.
eu reclamo, eu adoro, eu respiro fundo, eu faço o que posso, eu falo com o meu filho, ouvimos a mesma música todos os dias,eu faço este caminho, sem seguir livros, mapas ou dicas milagrosas, sem saber o que está mesmo certo, estou quase a chegar ao fim, certa que o fiz como foi possível e na minha maneira, sigo muito calma e um pouco orgulhosa por isso.
Não há formúlas ou equações resolvidas para nenhuma fase da vida. Há o que temos, tudo o que subtraímos para poder juntar de novo, as sementes que multiplicamos para um dia dividir.
Na gravidez continua a ser assim!
Um grupo de pintas que se alinham ao acaso mas certas do seu maior sentido!