As mãos abertas, em guerra com o corpo, que as nega…entediam de passar assim no vazio, oco do espaço onde as vozes se juntam para nada do pouco dizer. As mãos abertas, esperando nada de tudo, e a imensidão levada pelo ar, trazida pelo sopro do vento. As mãos que continuam ali, abertas, irrigadas de veias cor de azul cintilante e cinza prata.
São mãos de ser assim…
Mãos de mim, mãos de sal que limpa destrói, mãos de gelo que brilha, de fogo que reluz no corpo cansado delas, no corpo delas tomado.
Mãos que se abrem na espera de ser sopro de agua, bênção do pão que o espírito sossega.
Mãos que de ânsia se pintam de cor, que te pintam a óleo, numa tela de guache. Mãos de mim que não mudam e que serão assim na infinidade de possibilidades que elas por si só conseguem abrigar.
Mãos de pó de café e de cheiro a brisa verde um pinhal encantado, mãos de chocolate preto e intenso, mãos de tinto, mosto, néctar. Mãos de beber, de saborear, mãos de ser mais, de nada mais ser, mãos abertas, porque já sabem trautear a cantiga do sempre regresso. Aquele que não volta, mas sempre retorna, depois de o negar com toda a vimência e insistência. Mãos de ponteiro de relógio, das horas que se repetem sempre, como o caminho circular que sempre se faz com elas, circular como o caminho dos sonhos, como o dos desejos e como o da própria vida. Mãos de mentira e de joio, mãos de verdade e de trigo, mãos que abertas são pouco mais que eu, e pouco menos que o todo que já não vês e não páras de pensar em encontrar…
Mãos abertas para a tua descoberta, o reencontro do que não queres ver com elas, mãos de mágoas passadas e beijos nunca trocados, mãos apertadas, sem anéis, coloridas, doridas, cansadas, ofegantes, sofregas, quentes e extasiantes,mãos que não falam, sussurram, que não contam, guardam, Simplesmemte mãos abertas onde certamente, vais de forma inevitável voltar a passar…Talvez mais devagar…