Eu nunca vi o mar da cor rosa, nunca vi o céu lilás, nunca vi as árvores com os ramos na base...nunca vi um cão azul... não sei se por aí, há algo assim...não sei, não vi...
Nunca vi o sonho, não, nunca o vi passear pelo jardim, nunca da minha janela o vi a subir a encosta ou simplesmente a caminhar...e isso intriga-me...
Nunca vi o sonho, e ele é aquela metáfora constante, que recordo quando penso naquela frase que repito tantas vezes, quantas tal sensação me atinge..."olhas-me, mas, não me vês"... Isto que tu fazes comigo, eu faço com o sonho...olho para ele mas não o consigo ver. A minha retina não o fixa, se não fica tudo enevoado, ele passa a correr, veloz em demasia; a entropia que se instala à sua volta é sempre imensa, como imensa é a complexidade do seu significado...
Eu nunca consegui ser como tu, nem sequer consegui conhecer-te...
Nunca percebi onde andas, nunca te cheguei a encontrar, não parei o tempo e fugi, para lá, para mais perto...
Nunca li um livro capaz de contar aquela história, sim a minha, a tua e de um todos que por aí passam... mesmo as autobriografias falham, são episódicas, leves, contam o que se pode dizer, o que se quer que se saiba e não contam a vida, não contam a história, a história do sonho...
Nunca joguei ao "eu nunca" sem ter pegado no copo para beber, nunca perdi um comboio, mas sim muitos autocarros... Nunca escrevi tantas vezes nunca, nunca disse tantos nuncas descabidos...
Eu nunca te pedi nada, nunca me ouviste ao teu redor a falar, a dizer, nunca te contei o meu sonho, porque nunca o contaria nem a ti nem a ninguém...jamais negaria que ele existe, um eu em mim, vive dele...
Sabes a que eu me refiro?! Não ao da loucura, mas ao da sanidade, sim o eu que vive da esperança, que vive do tempo, esse que oferece tudo num simples passar, porque é doente irrequieto, que não para para não morrer...
Hoje, não sei porque digo, escrevo assim... Geralmente há em mim aquela razão, o pensamento semente que me faz começar a pensar para o papel...eu nunca me esqueço dele, uso e abuso da sua forma, faço frases na cabeça, para as condensar nas minhas ideias...
Acreditem, é verdade, eu nunca escrevi nada assim, desordenado, solto, como hoje, eu nunca te vi entrar, eu nunca neguei que esperava...mas agora, como nunca, falta-me o tempo, sim esse, que irrequeitamente nega parar, eu nunca te disse isto, eu nunca te disse nada, mas agora, o nunca está aqui, para me dizer, que "Passa por lá", mas não pára, tu não vais, não estás, e o nunca mostra-me que eu não tenho voltado lá.... a razão é que nunca a vida me mostrou um pedaço que vejo agora, não só com os olhos, mas com todos os sentidos...
Nunca eu tinha visto assim...